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O problema não és tu… sou eu…

O problema não és tu… sou eu… Chega uma altura em que há que por fim às relações que não desejamos manter. A frase do título é uma daquelas desculpas usadas muitas vezes para essas situações. Quando a usamos, sabemos que o queremos dizer é algo um pouco diferente, mas no fundo tudo se resume à impossibilidade da relação continuar. Passados três anos é caso para dizer à União de Freguesias (por uma questão de espaço vou optar por não escrever aquele nome que nunca mais acaba!!?) que … o problema não és tu cara União, o problema sou eu. Sim, eu sou essa terra que nunca te assumiu, nunca te mostrou aos amigos, nunca te escreveu. Aparecem umas siglas nos nossos documentos, mas são siglas vazias sem corpo ou dimensão. Não te sinto minha, ou pelo menos sinto-te tão minha como outra coisa qualquer que simplesmente não é minha. Acho que, na verdade, nunca quis deixar a minha vida de terra solteira, detentora da sua própria história e dona do seu próprio destino. Sinto mesmo que a nossa ...

O colchão dos ricos, a confiança e o cheque em branco

O colchão dos ricos, a confiança e o cheque em branco Ninguém tem dúvidas que uma das vantagens da democracia é a sua capacidade de regeneração e ajustes contínuos em função dos tempos, das necessidades e da vontade coletiva. Nenhum outro sistema protege desta forma a sua sobrevivência e se estudarmos a história, todos os outros tipos de governo faliram por não se conseguirem propagar nos anos ou sobreviver à ausência do seu ditador. Até na China, um sistema tão complexo que nem me atrevo a explorar a fundo, a manutenção do sistema atual só é possível pela sua capacidade de se projetar nos tempos, quebrando dogmas e barreiras que confundem aqueles  que ainda estão enclausurados dentro de fronteiras ideológicas. No entanto, a nossa civilização assentou e assenta no pressuposto que a palavra democracia só se poderia associar ao sistema capitalista, mesmo que controlado, em oposição ao sistema comunista, completamente controlado pelo estado. Em boa medida, todas as democra...

Estado de (in)segurança

Estado de (in)segurança Não me perguntem o que é viver com medo. Não saberei responder. Posso apenas imaginar um sobressalto constante, um estremecer a todo o momento e um mal-estar difícil de explicar, mas que rói, desgasta e que nos tolhe a vontade de viver. Não é segredo que a base da nossa civilização assenta na confiança no outro, regido por um código de regras implícitas e explícitas que nos permitem viver em sociedade. Eu confio que posso atravessar uma rua, cruzar-me com desconhecidos sem ter medo de sair ferido deste ato banal. Eu confio que me posso sentar numa esplanada, descontrair, sem me preocupar ou ter sequer a mínima suspeita que tudo irá pelos ares, ou que um tresloucado, pendurado numa janela de um carro, irá começar a descarregar um carregador inteiro de uma AK. É esta confiança nos outros, assente na previsibilidade de comportamento social, mesmo com os seus inúmeros problemas, que caracteriza a sociedade ocidental. Se esta é uma das nossas características p...

A parábola da galinha e da vizinha

A parábola da galinha e da vizinha Conta-se por aí que num certo tempo, num qualquer país por aí, havia uma família que tinha uma galinha. A galinha era magra como os seus donos e, nem estes tinham comida para dar à galinha, nem a galinha por ser tão esquelética, lhes servia de comida. A certa altura uma vizinha, que passava pela porta daquela família, ao ver a galinha tão fraca e magra, começou a deixar um pouco de milho todos os dias. Ao fim de algum tempo, a galinha foi naturalmente engordando e passados alguns meses, não mais do que três, as cores vivas voltaram às suas penas e a carne voltou a envolver os seus ossos. Naturalmente, todos ficaram agradecidos com a generosidade da vizinha, pois se ajudava a galinha também os ajudava a todos. Claro que galinha gorda em tempo de fome tem o destino traçado. No entanto, esse destino, com cheiro a cabidela, foi sendo adiado a pedido da própria vizinha. A galinha estava mais gorda do que nunca, mas a família continuava magra, já que c...

A mensagem na garrafa em três atos

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A mensagem na garrafa em três atos Ato 1 - Gargalo Algo se perdeu nos últimos anos. Pelo menos algo mudou e como qualquer outra mudança, esta traz consigo pontos positivos e pontos negativos. Agora todos sabem tudo sobre todos e todos julgam saber tudo sobre tudo. Na verdade está tudo à distância mínima de um clique ou para ser ultra moderno à distância de um toque num ecrã ou de um comando de voz. É muito bom poder saber tudo sobre a cidade de Gorgora, situada nas margens do lago Tana, sem nunca lá ter ido, percorrendo virtualmente as lendas do Preste João. Não escondo que me sinto bem com o uso que faço das tecnologias e tento colocá-las a serviço do que quero fazer, tornando a minha vida mais fácil. No entanto, sinto falta da incerteza; sinto falta de não sentir falta de estar ligado à corrente ou a uma qualquer nuvem, de ter medo de ficar sem bateria de um aparelho qualquer, de me esquecer das inúmeras palavras-passe e inúmeros códigos que nos obrigamos a decorar. Hoje q...

A FORÇA DA TÉNICA do ZECA da VITÓRIA

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Agora conto eu… A FORÇA DA TÉNICA do ZECA da VITÓRIA Não venham aqui os corretores ortográficos dizer que existe um erro no título. Não se trata de uma nova ortografia acordada ou não. Nada disso. O meu avô percebe, lá na estrela onde se senta. Ele e certamente algumas pessoas que o conheciam mais de perto. Há um lote reduzido de pessoas que tiveram muita influência na minha vida. Dessas, destaco o meu avô. Custa-me crer que já tenham passado 17 anos desde a sua morte, quando as memórias que tenho dele são tão presentes como a navalha de ponta arredondada que trazia sempre no bolso e o chapéu de abas curtas com que cobria a sua calvície. O meu avô era uma pessoa forte, de caráter vincado, honrado, de palavra. Mas essa é a faceta que todos, pelo menos os que contactaram com ele, conhecem. Hoje quero lembrar-me do que partilhei com ele, da vida que tive com ele, das alegrias que a nossa vida em comum me proporcionaram nos primeiros 20 anos da minha vida. O meu avô foi basilar n...

Carta

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Carta Há quanto tempo não recebo uma carta! Hoje queria ir à caixa do correio e ter uma carta à minha espera. É certo que devo ter algumas à minha espera, mas dessas…tento despachá-las o mais que posso com o débito direto. Se ao menos fossem pessoais e se dirigissem de forma menos mecânica, até poderiam dar uma qualquer alegria. Imaginem só, lá de um departamento qualquer da EDP a dizerem: “Caro João, Como tens passado? Escrevo-te esta carta na esperança que estejas bem. Por cá as coisas estão a correr bem e as barragens continuam a produzir eletricidade com fartura. Espero que tenhas tido poucas falhas de luz e que consigas ter energia para continuar a escrever com muita inspiração. Envio por esta carta um beijinho muito grande para a Maria e desejo que ela esteja muito feliz na sua nova escola. A conta deste mês são 49 euros e 28 cêntimos. Quando puderes passa por aqui e pomos a conversa em dia. Abraço deste teu amigo da EDP” Custava de igual modo a pagar, mas acho q...

Diálogos (im)prováveis

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Já não há animais para histórias!  - Não te assustes com o título! Vá lá, não chores…ainda existem muitos animais por aí… - Mas tu disseste que já não havia mais animais! Já não percebo nada… - O que eu quero dizer é que parece que já não há mais animais para escrever histórias. Estou a tentar escrever uma história nova e já não tenho animais disponíveis. Ele é cãezinhos e cachorros de todas as cores e feitios; leões, zebras, elefantes e restante companhia do zoológico, coelhos, sapos, grilos, formigas, pássaros, mochos, corujas, esquilos, ratos, hamsters, iguanas e até o menos provável se tornou uma superestrela! - Qual, a hiena? - Não, o ornitorrinco! Até esse virou animal de estimação e agente secreto nas horas livres.  - Pois é… não te sobram muitos, pois não… E se fosse uma gaivota? - Já temos o Fernão Capelo Gaivota… - E porque é que tem de ter um animal? - Pois… não sei muito bem, nem pensei muito nisso… deve ser influência das fábulas de La Fonta...

A liberdade, a democracia e as novas ditaduras

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A liberdade, a democracia e as novas ditaduras Hoje gostava muito poder contar-vos uma história; ligar o meu botão da imaginação e deixar que mundos possíveis saíssem dos meus dedos. No entanto, acredito que vivemos um tempo urgente em que apesar de haver sempre tempo para uma história, acho que devo aproveitar estas linhas para servir de despertador a todos os que se deixaram apanhar pela apatia, pela autocomiseração, e pela desresponsabilização do papel que devem cumprir a nível social. Como exemplo disso mesmo, basta lembrar que apenas metade dos eleitores exerceu o direito de voto nas últimas eleições. Até me apetece dizer que merecem tudo o que recebem e venham a receber. Cresci em democracia, em que, pelo menos aparentemente, se fez um corte com um sistema ditatorial, e que cada governo eleito até agora, exerceu o seu poder e governação consoante a realidade, mas também consoante a sua ideologia. Foi isto que permitiu criar um Sistema Nacional de Saúde, a renovação da re...

"A rádio também gosta de livros" 1/2 - João Cunha Silva

Hoje o programa "A rádio também gosta de livros" da autoria de Susana Freitas foi sobre mim e sobre os meus livros http://aradiotambemgostadelivros.blogspot.pt/2016/02/joao-cunha-silva.html A rádio também gosta de livros - 1 de fevereiro (João Cunha Silva)