A FORÇA DA TÉNICA do ZECA da VITÓRIA

Agora conto eu…

A FORÇA DA TÉNICA do ZECA da VITÓRIA
Não venham aqui os corretores ortográficos dizer que existe um erro no título. Não se trata de uma nova ortografia acordada ou não. Nada disso. O meu avô percebe, lá na estrela onde se senta. Ele e certamente algumas pessoas que o conheciam mais de perto.
Há um lote reduzido de pessoas que tiveram muita influência na minha vida. Dessas, destaco o meu avô. Custa-me crer que já tenham passado 17 anos desde a sua morte, quando as memórias que tenho dele são tão presentes como a navalha de ponta arredondada que trazia sempre no bolso e o chapéu de abas curtas com que cobria a sua calvície. O meu avô era uma pessoa forte, de caráter vincado, honrado, de palavra. Mas essa é a faceta que todos, pelo menos os que contactaram com ele, conhecem. Hoje quero lembrar-me do que partilhei com ele, da vida que tive com ele, das alegrias que a nossa vida em comum me proporcionaram nos primeiros 20 anos da minha vida. O meu avô foi basilar na minha formação enquanto humano: muito lhe devo. 
Por vezes penso que muitos dos problemas que vivemos hoje seriam evitados se a rede familiar fosse composta pelo encontro de três gerações. Penso também que os meus pais não me poderiam ter dado nada tão importante como a presença dos meus avós na minha vida. É na verdade o melhor presente que uma criança pode ter.
Confesso que me preocupa a disfunção familiar que retira do contato familiar os avós, que os esconde, que os maltrata, que os trata pior do que os seus presidiários. Avós de alguém, sozinhos em casa, sem comida, sem dinheiro para medicamentos, fechados, isolados, sem apoios, e por outro lado, e muito bem afirmo, se um presidiário desejar estudar é acompanhado por três ou quatro guardas durante o período das aulas ou exame. Quem cometeu o crime aqui?? 
O papel dos avós na sociedade é tão importante e tão basilar que certamente estaremos todos loucos ao tratá-los assim.
Uma das melhores experiências profissionais e também pessoais que já tive foi ser professor na Academia Sénior de Gaia, onde trabalhei com pessoas, que tinham já interrompido a sua atividade profissional, mas longe de interromper a sua atividade humana. Têm tanto para dar à sociedade. Sociedade doente que desaproveita as valências de pessoas tão capazes e com a sabedoria que apenas o tempo traz.

Os avós são especiais, são âncoras que nos suportam com o abanar dos tempos e convicções. Os avós têm o tempo que falta aos pais, no meio da luta diária pelo pão. O amor pelos pais nem sequer questiono, é normal, presente e diria obrigatório em circunstâncias normais. O amor pelos avós carece cultivo, permanência e presença. Eu tive um avô e uma avó presentes na minha vida, com uma força imensa, cada um à sua maneira. Felizmente, guardo para sempre as memórias dos tempos partilhados com o meu avô e sei que me guia lá do sítio onde está, tal como guiava com mestria, se não me engano à terça-feira, a água de consortes da mina até cada pé de milho.

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