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A mostrar mensagens de setembro, 2013

Culpado

Um nervoso indesmentível tomava conta dele sempre que tinha de falar em público. A sala já estava composta e poucos eram os lugares por ocupar. Tinha escrevinhado um pequeno discurso num bloco preto. Sentou-se e no vazio ouviu o discurso balsâmico da representante da editora. Quando se preparava para falar, levantou-se uma mulher com o seu livro na mão. Aproximou-se e, de forma surpreendente, pregou-lhe um valente estalo na cara e disse: – Ela não devia ter morrido...
Agora conto eu...77 palavras "O lugar do morto" "Todos os dias se levantava e iniciava o ritual: tomava o pequeno-almoço a ler o jornal, fazia a barba de forma meticulosa, tomava um banho com prazer batismal, vestia uma camisa imaculada e, já com os sapatos calçados, pretos, sempre pretos e impecavelmente limpos, apertava a gravata ao espelho com um olhar ausente e distante. Vestia o casaco e alisava as poucas engelhas que encontrava. De seguida, deitava-se na cama de regresso ao seu lugar de morto." João Cunha Silva
Declaração de interesses! Em desacordo com aqueles que estão em desacordo com o ACORDO (1) Confesso que seria muito mais fácil fugir ao tema ou então refugiar-me em justificações legais ou até, quem sabe, aconselhamentos editoriais. Mas não vou por aí (Régio, levo-te esta emprestada). Não é por ignorância, desleixo ou seguidismo cego, que tenho optado nos meus escritos (quase todos, confesso há coisas que ainda me fazem naturalmente confusão) por escrever de acordo com o AO. Nem tão pouco se trata de subserviência ou falta de patriotismo. Nem mesmo um desamor  latente com a Língua Portuguesa (maiúsculas ou sem maiúsculas?). Lamento também contrariar alguns arautos do que é certo, sim esses que estão sempre contra tudo, por ser moda, chic, ou até quem sabe, porque hoje fica bem ter uma nota de rodapé, seja lá  qual for  a nota: pode ser  “ x, ou y escreve de acordo com a grafia antiga” (exploremos o filão desta ideia, grafia antiga…); mas poderia muito bem ser: “ x ou y come iogurt

Sem brilho

Hoje não consigo ser poeta! Falta-me o ar fresco de uma manhã nova; Falta-me a corrente de ar, vinda de uma janela aberta; Falta-me um olhar arejado, Próprio de uma mente desperta. Hoje não me deixem ser poeta, pois as minhas palavras, todas elas tardias e desnecessárias, Já não exaltam o que vejo, Nem lhe dão brilho nem cor. Hoje não me deixem ser poeta, pois não quero ser sombra ou manto poeirento, que rudemente cobre a beleza de um momento de silêncio. João Cunha Silva