A liberdade, a democracia e as novas ditaduras
Hoje gostava muito poder contar-vos uma história; ligar o meu botão da
imaginação e deixar que mundos possíveis saíssem dos meus dedos. No entanto,
acredito que vivemos um tempo urgente em que apesar de haver sempre tempo para
uma história, acho que devo aproveitar estas linhas para servir de despertador
a todos os que se deixaram apanhar pela apatia, pela autocomiseração, e pela
desresponsabilização do papel que devem cumprir a nível social.
Como exemplo disso mesmo, basta lembrar que apenas metade dos eleitores
exerceu o direito de voto nas últimas eleições. Até me apetece dizer que
merecem tudo o que recebem e venham a receber.
Cresci em democracia, em que, pelo menos aparentemente, se fez um corte com
um sistema ditatorial, e que cada governo eleito até agora, exerceu o seu poder
e governação consoante a realidade, mas também consoante a sua ideologia. Foi
isto que permitiu criar um Sistema Nacional de Saúde, a renovação da rede
escolar e a generalização do ensino público e uma melhoria generalizada das
condições de vida das pessoas. Permitiu também a possibilidade de ascensão
social, antes encrustada e simplesmente imóvel. Era também fácil ser pela
democracia, já que as ditaduras apresentavam sempre um rosto bem identificado para
odiar e um rosto contra quem era “fácil” lutar.
Agora, por oposição, podemos vociferar contra uma manada de técnicos e
tecnocratas, contra uns “mercados” e podemos muito bem ficar por aí e qual
agrimensor, estamos condenados a percorrer capelinha atrás de capelinha, em
busca do rei e dos donos disto tudo, sabendo por antecipação que nunca os
iremos encontrar.
Como novos tempos necessitam de novos pontos de análise, chego à conclusão
que afinal a nossa liberdade acabou; não vivemos num estado democrático e
livre, e apesar de muitos pensarem em silêncio que cheguei tarde a esta
conclusão, reafirmo que nunca é tarde para se chegar ao sítio certo.
A liberdade acabou porque a liberdade afinal tem um preço, e se tem um
preço, é porque somos escravos à espera de carta de alforria. Não me conformo!
Não me conformo com os que se conformam; não me conformo com esta Europa
fascista e totalitária que se apresenta disfarçada de outra coisa qualquer. Mas,
por muito que tentem com falinhas mansas e discursos redondos, já não dá para disfarçar
e a máscara cai à vista de quem quer ver.
Hoje, a ditadura em que vivemos é muito mais perigosa, uma vez que se
esconde atrás de democracias aparentes e fictícias e conta com o adormecimento
geral das suas populações. Se a forma com que se apresenta é outra, não há
muita inovação no conteúdo e práticas usadas, pois aí apresenta os mesmos
tiques das ditaduras antigas: menosprezam a opinião das pessoas; governam para
uma minoria, contra os interesses da generalidade dos povos; e recusam a
referendar as suas próprias ações.
Façam a vossa própria verificação e não será difícil qualificar a UE como
uma ditadura travestida.
Sou europeu, mas confesso que não me revejo nos valores da europa atual.
Esta europa está longe dos ideais dos seus criadores e mentores. Muitos destes,
teriam mesmo vergonha do monstro que criaram, da mesma forma como o Dr.
Frankenstein de Mary Shelley, teve do monstro que deu vida a partir de
cadáveres.
Sei que a minha voz terá pouco eco, mas esta semana descobri a minha causa
e não descansarei enquanto não houver um referendo sobre a Europa e sobre as
suas instituições não eleitas que exercem verdadeiramente o poder. (comenta este texto em
joaocunhasilva.blogspot.com)
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