Mensagens

O que eu quero é o mar;

O que eu quero é o mar; sorver a maresia, deixar-me salgar. Quero escrever na areia, versos efémeros, passageiros, que durem a eternidade da onda e se misturem na espuma. Quero o mar poema, cheio de lágrimas e versos, calmos, na ordem certa, ou revoltos, indomáveis, tomados pelo vento. Quero o mar, poema eterno, tecido na cadência das ondas, escrito no seu desmaio, declamado na sua força. Quero o mar, livro em branco que me receba palavra a palavra Verso a verso quadra a quadra Quero ser mar, Quero ser onda, espuma, Quero ser sal Quero ser a palavra que, temperada pela maresia, seduz o sabor dos dias. Aí o mar se faz poema, e o poema é nada mais do que mar! Jcs 2016

Palavra Maldita

Palavra Maldita E a palavra, soletrada, presa nos dentes, ou livre com vento nas asas. Que seja dita pois nunca será maldita. Que procure tempo ameno, No voo em bando de uma frase Ou enfrente tempestades, num verso bravio que não rima …mas, que seja dita, pois nunca será maldita. Que não fique presa, pesada, Carregada da cor do tempo e lhe fuja o momento. Que seja apenas dita com cadência, ou tropeção, verso nobre, ou palavrão …mas que seja dita, pois nunca será maldita! Jcs/2016

Fugir da derrota como o diabo da cruz

Fugir da derrota como o diabo da cruz Escrevo esta crónica na véspera da partida da nossa seleção para França. É claro que só posso desejar que nos proporcionem dias de alegria, e claro, que desta vez o caneco venha para cá. Não peço menos. Aliás, não concebo que se entre numa competição sem ser para ganhar. Pode-se perder; ficar pelo caminho; escorregar em frente à baliza; pode até o poste impedir o tal golo da vitória; podemos mesmo não ganhar um único jogo e nem sequer marcar um único golo, mas… ninguém deve partir para uma competição sem ser com o objetivo de ganhar. Se não for assim, mais vale não competir. Claro que perder faz parte do jogo, mas quem se prepara para perder, muito dificilmente ganha. É mesmo uma questão de atitude. Não se confunda isto com falta de desportivismo, pois uma coisa é aceitar a derrota e outra coisa é não se importar com a derrota. Para que se queira mesmo ganhar, há que ver as derrotas como a pior coisa que pode acontecer, e sejamos francos, como ...

Crianças, histórias e um basta!

Crianças, histórias e um basta! Gosto de contar histórias, gosto de as imaginar e ver crescer dentro da minha cabeça. Depois, nem todas resistem ao papel; muitas delas não sobrevivem sequer, qual efémeras, ao fechar de olhos da minha filha. Mas nem assim deixo de sentir uma enorme felicidade por ter a oportunidade de lhe contar em primeira mão as histórias que me habitam. Mesmo efémeras, servem o propósito máximo que qualquer história possa um dia vir a ter: ter um ouvinte, um leitor, alguém do lado de lá. Tudo isto já seria suficiente, já seria uma amostra evidente de felicidade suprema. A minha sorte é ter muitos momentos como estes, e só posso desejar que nunca acabem, que ela nunca desista de me pedir histórias. Destas, algumas passam para o papel e ganham uma dimensão mais completa, outras, mesmo mais elaboradas, ficam à espera da pincelada final que poderá muito bem nunca chegar. E ficam ali guardadas numa gaveta qualquer, ou num ficheiro à espera de melhores dias. Há depois ...

Lançamento do livro "Papá, só mais uma..."

Particularmente público ou Publicamente particular?

Imagem
P articularmente público ou Publicamente particular? Convém desde já fazer a minha declaração de interesses para que não haja equívocos. Todo o meu percurso de aluno foi feito em escolas públicas, desde o ensino primário ao ensino pós-graduado. Como docente, grande parte do meu percurso foi feito em escolas públicas. No entanto, neste último ano abracei alguns projetos em instituições privadas, onde estou a desenvolver a minha atividade profissional. Conheço, por isso, as vantagens e desvantagens de cada um dos lados, as suas limitações e méritos, mas não é exatamente isso que está aqui em discussão. Não pretendo abordar aqui qualquer questão relacionada com a qualidade de ensino, até porque as variáveis são muitas e seria necessária uma análise exaustiva a cada caso, que não tem lugar no espaço destinado a esta crónica. Para os que seguem os meus textos, sabem que defendo de forma acérrima aquilo que chamo como “consciência da escolha”, ou seja, que o estado e a sociedade dev...

Apresentação em Sanfins de Ferreira

O ar de ABRIL

O ar de ABRIL Parece que este ano se festejou ABRIL. Sim, parece que o ar está mais leve, e que, passados uns quatro pesarosos anos, deu vontade de respirar o aroma dos cravos que invadem as ruas e lapelas do nosso país. Sente-se no ar um ar fresco das possibilidades e um libertar das algemas das inevitabilidades. Mas posso a estar a ser ingénuo, romântico ou até quem sabe enganado. No entanto há este cheiro a uma nova utopia que tornam presentes os valores daquele mês primaveril. Nascido em 1978, nada posso comparar, nada posso afirmar de um tempo que não vivi. Felizmente, não sei o que é uma ditadura sem ser por aquilo que me contaram, sem ser por aquilo que li ou sem ser pelo que vi e vejo nas notícias ou em documentários; nunca lutei pela liberdade, nem nunca lutei pela liberdade de expressão, pois nunca me faltaram e sempre tomei como certas. No entanto, não há nenhum valor de ABRIL no qual eu não me reveja, não há nenhum valor de ABRIL que eu não ache justo e desejável para ...

O problema não és tu… sou eu…

O problema não és tu… sou eu… Chega uma altura em que há que por fim às relações que não desejamos manter. A frase do título é uma daquelas desculpas usadas muitas vezes para essas situações. Quando a usamos, sabemos que o queremos dizer é algo um pouco diferente, mas no fundo tudo se resume à impossibilidade da relação continuar. Passados três anos é caso para dizer à União de Freguesias (por uma questão de espaço vou optar por não escrever aquele nome que nunca mais acaba!!?) que … o problema não és tu cara União, o problema sou eu. Sim, eu sou essa terra que nunca te assumiu, nunca te mostrou aos amigos, nunca te escreveu. Aparecem umas siglas nos nossos documentos, mas são siglas vazias sem corpo ou dimensão. Não te sinto minha, ou pelo menos sinto-te tão minha como outra coisa qualquer que simplesmente não é minha. Acho que, na verdade, nunca quis deixar a minha vida de terra solteira, detentora da sua própria história e dona do seu próprio destino. Sinto mesmo que a nossa ...

O colchão dos ricos, a confiança e o cheque em branco

O colchão dos ricos, a confiança e o cheque em branco Ninguém tem dúvidas que uma das vantagens da democracia é a sua capacidade de regeneração e ajustes contínuos em função dos tempos, das necessidades e da vontade coletiva. Nenhum outro sistema protege desta forma a sua sobrevivência e se estudarmos a história, todos os outros tipos de governo faliram por não se conseguirem propagar nos anos ou sobreviver à ausência do seu ditador. Até na China, um sistema tão complexo que nem me atrevo a explorar a fundo, a manutenção do sistema atual só é possível pela sua capacidade de se projetar nos tempos, quebrando dogmas e barreiras que confundem aqueles  que ainda estão enclausurados dentro de fronteiras ideológicas. No entanto, a nossa civilização assentou e assenta no pressuposto que a palavra democracia só se poderia associar ao sistema capitalista, mesmo que controlado, em oposição ao sistema comunista, completamente controlado pelo estado. Em boa medida, todas as democra...