Crianças, histórias e um basta!

Crianças, histórias e um basta!

Gosto de contar histórias, gosto de as imaginar e ver crescer dentro da minha cabeça. Depois, nem todas resistem ao papel; muitas delas não sobrevivem sequer, qual efémeras, ao fechar de olhos da minha filha. Mas nem assim deixo de sentir uma enorme felicidade por ter a oportunidade de lhe contar em primeira mão as histórias que me habitam. Mesmo efémeras, servem o propósito máximo que qualquer história possa um dia vir a ter: ter um ouvinte, um leitor, alguém do lado de lá. Tudo isto já seria suficiente, já seria uma amostra evidente de felicidade suprema. A minha sorte é ter muitos momentos como estes, e só posso desejar que nunca acabem, que ela nunca desista de me pedir histórias.
Destas, algumas passam para o papel e ganham uma dimensão mais completa, outras, mesmo mais elaboradas, ficam à espera da pincelada final que poderá muito bem nunca chegar. E ficam ali guardadas numa gaveta qualquer, ou num ficheiro à espera de melhores dias.
Há depois aquelas histórias mais resistentes, polvilhadas de pozinhos de magia, que merecem a intemporalidade em livro e merecem a sua existência na imaginação dos outros. No passado dia 28 de maio aconteceu mais um desses momentos. Uma das minhas histórias foi premiada num concurso literário em 2015 e foi parar a um livro, em conjunto com outras cinco histórias. Assim, estive na Biblioteca de S. Lázaro, a biblioteca municipal mais antiga de Lisboa, construída no século XIX com o nobre propósito de alfabetizar as populações, a lançar o livro “Papá, só mais uma…” editado pela Alfarroba. Foi sem dúvida um momento muito interessante, em que pude partilhar mais um momento feliz da minha vida, com aqueles que nunca me abandonam, os meus pais, a minha esposa e claro a minha filha. Independentemente da sua sorte ou do seu sucesso, as histórias são uma forma de partilha, de arranjar tempo para momentos comuns, em que a televisão está silenciada e existe diálogo e comunicação olhos nos olhos. Haverá poucos momentos que se assemelhem ao ato de partilharmos uma história, pelo menos que me tragam tantas coisas boas
É pois, na companhia da família que nos realizamos; tudo resto importa muito pouco. Por isso, dá para entender que não espero grandes reações a mais este passo que realizei. Sei que importa muito pouco para aqueles que, muitas vezes com desdém, menorizam todo o trabalho que tenho feito em promoção da leitura, do livro, e claro da minha terra. Tenho a sorte de ter muita gente amiga que me tem ajudado na promoção do meu trabalho, e por isso tenho tido a sorte de conhecer cidades, instituições que me recebem com muito carinho. A esses só posso agradecer e prometer a minha constante dedicação e disponibilidade.

Por outro lado, aqui por perto, há uma qualquer barreira, mais ou menos invisível, e salvo algumas exceções, sinto muita indiferença e desatenção (propositada?) com que o meu trabalho é visto. Não espero honrarias, nem coisa que o valha, nem sequer questiono a questão de não ter cara de profeta na minha própria terra, pois sei que não tenho. Mas, custava assim tanto a escola que me viu escrever as primeiras letras, convidar-me para fazer o que tenho feito por tanto lado? Fica aqui a dica, sabendo de antemão a impossibilidade de isto acontecer nos tempos mais próximos, dada existência destas linhas agora escritas. Pesei tudo o que disse e vou dizer ao grama. E não seria natural existir uma abordagem da Junta de Freguesia ou União para um evento cultural? Mesmo sendo juiz em causa própria e se outro se tratasse que não eu, diria o mesmo: seria a coisa mais natural do mundo. Aliás farto-me de assistir a momentos destes por todo lado. Mas aqui não… distração por certo. Porquê dizer estas coisas agora? Bem, não sei bem, mas sinto-o e por isso digo-o, ou neste caso escrevo-o; é um desabafo que me faz bem, limpa-me a alma. Ainda não disse tudo e até tinha vontade de contar aquele momento surreal em que depois de ter sido convidado para um local que me diz muito, cá muito perto, ter feito duas sessões com as crianças lá presentes, em que pelo sorriso e reações dos próprios, devem ter corrido muito bem, e simplesmente me disseram, quando sair feche a porta, por favor. E eu fechei e para mim ficará assim, fechada.

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