Há um pássaro que de manhã me acorda
Há um pássaro que de manhã me acorda  Num chilrear de alegre canto  E eu, surpreso, não pelo canto,  Mas sim, surpreendido  Com o meu próprio espanto.   Como se não fosse normal  Um pássaro cantar  E eu, de habituado,  Não me espantar.   Há! Como é bom sentir  Que afinal, ainda me espanto,  Que os sentidos, afinal,  Ainda me trazem,  logo pelo espreguiçar do sol  nuances sonoros, tons melódicos,  e me recordam  que viver, é sentir;  é reagir; é sair da gruta;  é lamber com gula  todos os raios de sol  e sorver uma a uma  todas as gotas da chuva.   Não pares, pássaro,  Continua a tua missão  De me saber vivo,  Ciente de que existo  E, nem que seja só  Pelo som do teu canto,  Lembrar a minha humanidade.  JCs2017