Quem tem medo da democracia?

Quem tem medo da democracia?

Não há nada mais perigoso do que uma boa ideia posta em prática por gente fraca, irresponsável e dotada de uma cartilha de valores, no mínimo, questionável. Refiro-me à União Europeia, é claro! A União Europeia assenta as suas origens em ideias valorosas e realmente positivas, a que ninguém, de perfeito juízo, pode estar contra: a paz e a livre circulação de pessoas e bens dentro deste espaço comum. Como em tudo na vida, de nada serve uma boa ideia, se esta for posta em prática de forma pouco inteligente.
É do senso comum que qualquer união só valerá a pena se a soma for maior do que as partes: é assim que funciona com as pessoas, e é assim que funciona com as organizações. E é claro que quem se junta com outro, e aqui até podemos entrar na natureza das relações humanas, tem de estabelecer um conjunto de regras, fazer um determinado número de cedências, para que essa mesma união seja possível. Pesados os prós e os contras, o resultado dessa união, isto numa relação normal, é existirem mais benefícios do que coisas negativas para todos. Enquanto esta regra se aplica, não existem quaisquer problemas. Aliás, enquanto camiões carregados de dinheiro entravam para dentro das nossas fronteiras, para mudar por completo um país atrasado, analfabeto, parado no tempo, ninguém questionava o papel da CEE, ou mais tarde da União Europeia. Aliás, tenho a impressão que com a existência de tanto dinheiro ninguém questionou nada, mesmo nada. O brilho do dinheiro acabadinho de fazer cegou-nos de tal forma que ninguém parou para pensar na estupidez que era receber dinheiro para destruir a nossa agricultura, ou para abater a nossa frota de pesca para nos tornarmos “asfaltadores” de primeira classe. “Um dia teremos de pagar isto tudo”, disse a minha professora de Geografia do 9º ano, em plenos loucos anos 90. A gargalhada da turma foi geral. A professora deveria estar claramente louca. Nessa altura a ideia de que “não há almoços grátis” deveria ter sido mais difundida, mas estávamos muito ocupados com a nova espécie de cogumelos que nasciam por todo lado: os shoppings.
Agora que o brilho se foi, seria bom podermos fazer o que fizeram os habitantes da terra de Sua Majestade: pensar sobre o assunto. Seria bom termos a possibilidade de ver até que ponto esta relação nos interessa, fazer um referendo. Seria bom que a União Europeia fosse a união dos cidadãos da Europa e não a União dos governos da Europa, que cada vez mais fazem o impensável: governam altivos e indiferentes contra os interesses dos seus próprios povos. Admiro o Reino Unido por mais esta lição de democracia, por esta forma de mostrar que a ideia de fazer uma Europa contra grande parte dos europeus é o erro fatal, que fará a União Europeia esboroar-se em migalhas. Para além da grande lição de democracia, a forma como o resultado do Brexit foi recebido pelas instituições europeias, desmascarou a forma arrogante com que estas tratam quem pensa de forma diferente: birra, azia, vingança, e um rasgar imediato do clube de membro. Sei que o Reino Unido não era o exemplo de integração e mantinha sempre um pé de cada lado do canal da Mancha, num equilíbrio difícil. Mas se tratam desta forma o Reino Unido, nós seríamos completamente esmagados.
A União Europeia mais uma vez revelou ter medo da Democracia, e sinceramente tem de ter medo, pois a pior forma de por em prática a boa ideia que é a união dos povos europeus é governar em direção à sua pobreza, aniquilamento cultural e passar um bulldozer por cima das suas diferenças.

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