A poesia não serve para nada

A poesia não serve para nada


Não serve mesmo! Após longa reflexão e depois de muitas leituras sobre o assunto, chego à feliz conclusão que a poesia não serve mesmo para nada. Não lhe vejo qualquer serventia ou utilidade. Acho mesmo que deve ser a coisa mais inútil do mundo. De todas as invenções humanas, a poesia deve ser muito provavelmente a pior, logo a seguir, é claro, ao tapete voador (como é que alguém limpa os pés num tapete voador!??) Comparando com o “clip”, que praticamente dá para fazer tudo o que se consiga imaginar, a poesia cora de vergonha perante a sua completa inutilidade. Aqueles que ocupam o seu tempo a escrever poesia são uns verdadeiros tontos, que se deviam ocupar a escrever coisas, é claro, mais úteis: ofícios, palpites para o placard, notícias, sei lá bem…qualquer coisa que menos ocupe uma página inteira e não desperdice os restos das linhas. A esses tontos, para além de serem um bando de preguiçosos, deve faltar muito vocabulário pois deixam muitas vezes as frases suspensas, incompletas, com muita coisa por dizer.

É talvez por isso que eu gosto tanto de poesia: nada há mais sublime do que criar alguma coisa só porque a ideia de criar é entusiasmante; nada é mais sublime do que criar uma coisa com palavras, apenas porque sim, sem qualquer outra motivação, justificação ou uso previsto; nada há mais sublime do que desse nada se tirar tanto, se aproveitar tanto, se espremer tantos pedaços de vida.
A poesia é invenção mais humana dos humanos, tão carregada de tudo o que nos caracteriza enquanto espécie animal.
Não é a nossa racionalidade nem a inteligência que nos distingue dos restantes animais (é só ver a irracionalidade e estupidez diária com que gerimos o condomínio deste espaço que é a terra). O que verdadeiramente nos distingue é conseguirmos criar poesia.
Como tonto que sou, deixo-vos com uma coisa completamente inútil. Uma prenda que não servirá para nada, a não ser como prova que foi um humano com muita vontade de férias que escreveu esta crónica.

O que eu quero é o mar

O que eu quero é o mar;
sorver a maresia,
deixar-me salgar.
Quero escrever na areia,
versos efémeros,
passageiros,
que durem a eternidade da onda
e se misturem na espuma.
Quero o mar poema,
cheio de lágrimas e versos,
calmos, na ordem certa,
ou revoltos, indomáveis,
tomados pelo vento.
Quero o mar, poema eterno,
tecido na cadência das ondas,
escrito no seu desmaio,
declamado na sua força.
Quero o mar, livro em branco
que me receba
palavra a palavra
Verso a verso
quadra a quadra
Quero ser mar,
Quero ser onda, espuma,
Quero ser sal
Quero ser a palavra que,
temperada pela maresia,
seduz o sabor dos dias.

Aí o mar se faz poema,
e o poema é nada mais do que mar!
Jcs 2016

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