Pausa…

Pausa…

Por vezes é necessário fazer uma pequena pausa. Por vezes as folhas em branco ficam mesmo em branco, mesmo quando todos os prazos terminam. Por vezes chegamos à conclusão que somos apenas humanos e que somos falíveis. Por vezes repetimos frases que têm o mesmo início só para parecer que estamos a escrever algo de jeito. Por vezes continuamos no mesmo ritmo, usando um paralelismo sintático perfeito, só para mostrar que este desvario tem o seu propósito e que irá chegar a algum lado. Por vezes chegamos mesmo a algum lado, a alguma conclusão, a um fim. Por vezes não chegamos a lado nenhum que não seja ao fim de linha, sabendo que tudo recomeça no início da próxima. Por vezes temos de nos dar cinco minutos de ridículo para que tudo o resto pareça afinal sério. Por vezes temos de nos fazer outros para que o nosso eu possa ser levado a sério por nós mesmos. Por vezes pensamos dizer coisas que fazem sentido e depois, andamos às voltas a pensar se o que dissemos afinal tem cabimento. Por vezes temos de ler duas vezes para verificar se não nos contradissemos na linha seguinte. Por vezes continuamos a escrever sem nos preocuparmos com isso. Por vezes pensamos que somos mudança do mundo. Por vezes pensamos ser apenas um grão de areia que nada pode fazer para que os outros grãos de areia possam ser mudança. Por vezes sentimo-nos sós no meio de tanta gente. Por vezes somos uma multidão de vozes que se confundem. Por vezes pensamos muito antes de dizer seja o que for. Por vezes perdemos o tempo perfeito para as palavras certas. Por vezes dizemos coisas que seria melhor apenas serem pensadas. Por vezes ficamos cansados de nos ouvirmos. Por vezes nem reconhecemos a nossa própria voz. Por vezes nem a queremos reconhecer. Por vezes as coisas fazem sentido e tudo parece organizado à nossa imagem. Por vezes somos completamente desalinhados com a ordem das coisas. Por vezes cada passo que damos é o passo certo. Por vezes cada passo que damos anula o anterior. Por vezes fazemos parte de um circuito fechado em entropia. Por vezes somos um átomo a mais que explode e tudo muda. Por vezes somos sempre. Por vezes somos às vezes.

Como eu gosto de ser humano, errar, falhar, não ser certo. Como eu gosto de não ter corda para me acertar como os relógios antigos. Como eu gosto de ser vento errante e não previsível. Como eu gosto de poder ser tudo e nada ao mesmo tempo. Como eu gosto de viver e não pedir licença. Como eu gosto de não caber numa caixa. Como eu gosto de ser clone apenas de mim próprio. Como eu gosto de sofrer na pele. Como eu gosto de amar. Como eu gosto de respirar e ver as cores do mundo. Como eu gosto de não ter fundo e não saber onde acabo. Como eu gosto de não saber como este texto acaba. Como eu gosto da palavra mesmo que seja para não dizer nada.
Por vezes dá nisto: um montão de nadas que dizem tudo o que queremos dizer.

Como eu gosto de vos poder reencontrar nesta galáxia! Bom 2016! 

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