Crónicas antigas - "O Rei que não tinha castelo”
O Rei que não tinha castelo”
Era uma vez um Rei que não tinha castelo. Achava que não era necessário para a sua função. Vivia numa casa igual à dos restantes habitantes. Dormia também numa cama igual a todas as outras pessoas e a sua comida em nada diferia do que se comia por todo o reino. As suas roupas eram também perfeitamente normais e de coroa apenas tinha uma calvície avançada para a idade. No entanto, mesmo sem pompa e circunstância, todos o respeitavam como Rei e admiravam a sua dedicação e inteligência com que governava o reino. O Rei era fiel no seu trabalho de ser rei, era justo e reinava bem e por isso a população era empenhada e disposta a colaborar no que fosse necessário, para tornar o reino um sítio cada vez melhor para viver. O Rei cobrava impostos também justos: apenas os necessários para que o seu reino fosse um lugar culto, limpo e seguro. Um reino que tratasse as suas populações, dos mais novos aos mais velhos, com dignidade e respeito. Era por isso uma pessoa amada e venerada, mesmo sem ter um castelo.
Todos os anos, havia um jantar que juntava todos os Reis daquela região e nesse jantar o Rei sem castelo ficava abismado com a sumptuosidade demonstrada pelos outros reis. Não deixava de admirar as suas roupas faustosas, coloridas e brilhantes e os seus carros potentes e reluzentes. Imaginava que as populações daqueles reinos viveriam também de forma muito mais próspera do que o seu povo. Nas conversas com os seus pares, tentou saber como eram os seus reinos e os reis descreveram com muitos adjetivos a grandiosidade dos castelos em que viviam. O rei ficou convencido que se queria realmente que o seu povo melhorasse, teria de construir um castelo. Regressou a casa com a ideia na cabeça e não demorou muito a por o projeto em prática. Reuniu os melhores trabalhadores do reino para construir o castelo e estes tiveram de abandonar os seus empregos, deixando as tarefas que antes faziam; para pagar os materiais, os artesãos e artistas convidados para embelezar o castelo, desviou o dinheiro dos impostos, deixando de haver dinheiro para a educação, para a saúde e para ajudar os mais necessitados.
Com os olhos ofuscados com tanto brilho, o Rei olhou orgulhosamente para o magnífico castelo que tinha construído. Estava agora satisfeito e feliz por ser um Rei com um castelo, sem reparar que no processo se tinha transformado num Rei sem reino.
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