Crónicas antigas - A história da folha lutadora…
Conta-se por aí a história de uma folhinha, que vivia
feliz nos ramos de um plátano. Vivia na cidade, no meio de um parque, onde
muitas crianças brincavam e coloriam o ar com as suas vozes irrequietas. Tinha
nascido igual a todas as outras folhas, espreguiçando-se toda sonolenta, assim
que as manhãs de março ficavam mais quentinhas. Cresceu, brincando com as suas
companheiras de ramo, tentando, em corridas loucas, encontrar o melhor lugar
virada para o sol, atitude muito apreciada por todos os que usavam a sua sombra
para fazer um piquenique de família ou para descansar, depois de uma tarde de
brincadeiras. Em meados de agosto tornou-se uma folha adulta, de veios bem
vincados e pontas bem definidas. Fazia o seu trabalho de forma competente e
colaborava na importante função de manter a árvore próspera, sã e bela, é
claro. Certo dia, ouviu dizer que a árvore, patroa de todas as folhas, já não
precisava de tantos ajudantes e iria começar a despedir as folhas uma a uma,
depois do fim do mês de outubro. Pensou ser um boato e não quis acreditar, pois
uma árvore tão frondosa sem folhas não haveria de ficar. O certo é que, com as
primeiras manhãs frias do mês de outubro, as folhas, como se tivessem perdido o
seguro de saúde, começaram a perder o verde viçoso, ganharam tons amarelos e
avermelhados e finalmente começaram a ser despedidos dos seus ramos. Lutou com
todas as forças para se manter presa, mas pouco lhe serviu quando uma brisa
mais forte a fez flutuar pelo ar. Ainda pensou em fazer greve ou até protestar,
mas olhando a situação da árvore sabia que o que tinha de fazer era recomeçar.
Aterrou perto das outras folhas, que no chão formavam um tapete triste, mas
colorido. Toda aquela cor lhe deu uma ideia e ela não teve tempo a perder.
Chamou-as a todas e soprou-lhes com emoção. Disse-lhes que não era hora de
desistir, que apesar de não terem árvore, ainda podiam sorrir. Assim, com muita
determinação e incapazes de desistir formaram uma empresa com a missão do mundo
colorir. Podemos cair, mas nunca podemos desistir!
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