Agora Conto eu... " A Abelha Vaidosa - publicado no Tribuna Jornal a 27-06-2014

A Abelha Vaidosa Os leitores mais atentos terão reparado que a crónica do mês passado não estava assinada…até correu bem, já o que o título era “Esqueci-me…” e realmente, há coisas que nos escapam, mesmo quando temos a preocupação de tudo controlar. Ilusão! Não conseguimos controlar tudo e por vezes é muito bom que assim seja. Para mim é sinal de humanidade, para outros … uma boa desculpa. Mesmo assim, aqui fica a minha explicação. Nesta minha recente vida de pai e de contador de histórias, por vezes, é difícil acordar a imaginação para criar uma história fresquinha, apetitosa e comestível para uma criança de olhos brilhantes, que está à espera, nada menos, do que uma história genial, capaz de ombrear com as grandes histórias da literatura infantil. Apesar de difícil, é uma das tarefas de pai que me dá mais prazer: adormecer a minha filhota ao som de uma boa história, inventada no momento, à vela da narrativa espontânea, com personagens muito a propósito e com a ouvinte / crítica mais sagaz do mundo inteiro e arredores. Assim nasceu a história que vos vou contar: a história da “Abelha Vaidosa”, a história que adormeceu a Maria numa destas noites de junho. Numa colmeia no meio do monte vivia uma abelha muito vaidosa. Sempre que saía para apanhar o pólen das flores, passava sempre pela frente do espelho para confirmar e melhorar a sua beleza. Todos os dias repetia a mesma rotina e a cada vez arranjava uma forma de se tornar, aos seus olhos, um pouco mais bela: ora encaracolava os pelos, ora revirava as pestanas, ora pintava as unhas com feitios diferentes em cada uma… Aqui fui logo interrompido pela minha crítica, que mesmo parecendo já estar para lá do rio do soninho, depressa abriu os olhos e disse com a maior das certezas: «As abelhas não têm unhas, papá!» Ultrapassei este nó narrativo com a desculpa de que tinha aplicado umas unhas de gel e lá continuei com a história, pois os olhos voltaram a fechar em sinal de aceitação… Tal atitude atrasava as suas tarefas e era sempre a última a levantar voo. A rainha da colmeia não se chateava muito com o assunto que já dava falatório, pois apesar de tudo, mesmo sendo vaidosa, a abelha cumpria com distinção a tarefa de recolher o néctar das melhores flores. Um dia, ao olhar-se ao espelho, sem já saber o que fazer para melhorar a sua aparência, a Abelha Vaidosa decidiu pintar as riscas, que antes eram amarelas, de vermelho, uma cor que achava que lhe ficava bem. Olhou, tornou a olhar, deu uma voltinha e sorriu: o resultado era positivo, pelo menos no seu entender. A tarefa de pintar as riscas de vermelho deve ter demorado mais do que o habitual, pois nem ao longe via as suas companheiras e por isso levantou voo sozinha para o seu trabalho diário. A esta hora já a Maria dormia e por isso a história terá de continuar na próxima edição onde iremos descobrir o que aconteceu com a Abelha Vaidosa. Até já! João Cunha Silva joaocunhasilva@gmail.com www.facebook.com/EscritorJoaoCunhaSilva

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