Empurro a pedra

Empurro a pedra,
Sou eu o Sísifo dela,
E já não sei se não é ela que puxa;
Anseio o prazer do alto e nem a 
A lembrança da avalanche me faz recuar.
Hei-de cair, eu sei, mas não sem antes ver o alto, 
dois pés inchados e braços dobrados, vontade inquebrável,
subida, atrás de subida. 
-Ao menos um copo de água para o que faz de Atlas!
Anseio em segredo pelas asas de Dédalo, 
mas baixo a cabeça, 
mantendo a sede e empurro ladeira acima. 
Olham-me e eu olho-os, 
sem tirar os olhos da pedra. 
Sombras de grifos, em círculos, voam, 
mas a carne é viva e rija...terão de ser pacientes, pois não me entrego. 
Quando me prostrar, 
há-de sobrar pouco de mim, 
aí biquem o osso até dar faísca.
chego ao topo, penso eu, 
agora a pedra puxa, 
leva-me ao início. 
Nem os olhos lá do alto abri, 
mas a brisa pura tudo me disse, 
e desci puxado ao ponto de partida. 
E recomeço amnésico e alegre,
ansiando de novo as alturas.

João Cunha Silva

#eupoeta
#joaocunhasilva

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