#1 Agora conto eu... “Quando eu for grande!”

Era um dia especial na escola e sempre que era um dia especial o Luís tinha muita dificuldade em adormecer. Ficava de olhos presos no teto a antecipar, minuto a minuto, como seria o dia seguinte. Desta vez tudo era um pouco mais complicado, pois era o Dia das Profissões. Ele não sabia o que queria ser quando fosse grande. Como podia? Apenas tinha sete anos. Os seus colegas não tinham dúvidas: polícias, médicos, engenheiros, professores… mas o rapaz não sabia. -E se depois não gostar de ser uma daquelas coisas? É uma decisão importante! -pensou o rapaz. – Se não gostar vou andar toda a vida rezingão e maldisposto como anda o Sr. Gomes da mercearia! – Disse baixinho para o seu urso de peluche. De certeza, que ele se tinha arrependido da sua escolha. Gordinho como é, imaginou-o de avental branco a cantar de boca bem aberta: Ladónimobilé! Não conseguiu deixar de sorrir para o urso castanho, já remendado, esperando em vão a sua risada de volta. Aqueles pensamentos deram-lhe sono e foi assim que adormeceu sem ter resolvido o seu dilema.

Pela manhãzinha, o Sol, matreiro, obrigou-o preguiçosamente a esfregar os olhos. Levantou-se e de imediato se lembrou que se tinha esquecido de escolher a sua profissão. Enquanto engolia apressadamente os cereais com leite, começou a pensar nas coisas que gostava de fazer e nenhuma se parecia com as profissões que conhecia. Que ele soubesse, e não devemos ignorar o que uma criança de sete anos sabe, não existia nada parecido com Contador de Estrelas, Admirador de Palavras, Pintor de Sonhos, Fazedor de Sorrisos ou mesmo como Mudador de Mundos. Pelo menos que ele soubesse, é que apesar de uma criança de sete anos saber muito, não precisa ainda de saber tudo. Sentou-se no carro do pai, ainda cheio de dúvidas e fez o percurso para a escola sem desviar o olhar da janela lateral. Subitamente os seus olhos brilharam e era perfeitamente visível que algo de bom tinha acontecido, enquanto olhava o abanar das árvores e as gentes apressadas nas ruas.

Chegou a sua vez: aproximou-se confiante do quadro, virou-se para os colegas e disse com uma voz calma, segura e bem colocada, tanto como a voz de um menino de sete anos, sem dentes na frente, consegue ser: QUERO SER ESCRITOR!

João Cunha Silva

#joaocunhasilva
#agoracontoeu

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