#12 Agora conto eu… “Tenho uma baleia na banheira!”

#12 Agora conto eu… “Tenho uma baleia na banheira!”
João Cunha Silva

«Ajudem-me! Tenho uma baleia na banheira!!!!!»
Foi assim que acordei numa manhã cinzenta de dezembro. Agora que penso no assunto, não sei muito bem se foi um pesadelo ou um sonho, porque a baleia não é um animal que provoque medo imediato. Acho que foi só mesmo o susto de ter uma baleia na minha banheira que me fez acordar sobressaltado. Meio ensonado e ainda a pensar porque haveria eu de ter um sonho assim, calcei os chinelos e fui ao quarto de banho. Tentei abrir a porta, mas parecia que alguma coisa a impedia de abrir. Forcei, forcei e de seguida empurrei, empurrei, até que muito a custo lá se abriu uma pequena frincha por onde espreitei. Saltei de espanto! Afinal não tinha sido nem sonho nem pesadelo!
«Socorro, Ajudem-me! Tenho mesmo uma baleia na minha banheira!» Desato a correr em círculos, ainda meio atarantado. Belisquei a mão (ato muito usual para quem pensa que está a sonhar) e reparei que me doeu e por isso confirmava-se que aquela visão não se tratava nem de nenhum sonho, nem da minha imaginação. De imediato, liguei o 112 e disse com a voz mais aflita que encontrei, «Preciso de ajuda! Tenho uma baleia na banheira.» Do outro lado da linha, uma voz com acento grave disse: «Não acha que já tem idade para ter juízo» e continuou, «pode estar a ocupar a linha para alguma emergência. Respondi de imediato «Eu sei, eu sei… mas isto é mesmo uma emergência, não é brincadeira. Tenho mesmo uma baleia na banheira!» Do outro lado, de forma irónica perguntaram-me: «Não me diga que a baleia está a brincar com um patinho amarelo!» Fiquei espantado, como poderiam saber? «Sinceramente…» disseram-me do outro lado, «Ele há cada uma!» e desligaram o telefone na minha cara. Pousei o telefone, indignado com a terrível falta de consideração pelo que se estava a passar. Se não é para o 112, para onde se deve ligar quando se tem uma baleia na banheira? Espreitei mais um pouco para dentro do meu quarto de banho. Já não estava a brincar com o patinho amarelo, tinha mergulhado. Entrei e quando julgo que afinal tudo se passou de uma alucinação própria de um acordar ensonado e nada mais do que isso, eis que a baleia, enorme como só uma baleia consegue ser, aparece de rompante e num salto acrobático cai com um grande estrondo em cima da superfície da água. Escusado será dizer que fiquei encharcado da cabeça aos pés. Banho matinal tomado, pensei eu. E agora o que fazer com uma baleia na banheira? Ela parece que se encontra bem e não quer sair, pois se o quisesse, desapareceria tal como apareceu. Acabei por me habituar à ideia e assim sempre posso dizer que tenho um animal de estimação muito especial. Uns têm um cão, um gato, ou mesmo um periquito, mas qual é a piada disso quando se pode ter uma baleia na banheira. Por isso, se virem passar uns camiões carregadinhos de krill já sabem para onde vão. Porque uma baleia, mesmo uma baleia que vive numa banheira, também precisa de comer.

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